Vós...
Vós não sabeis...
Não precisamos ir a
fundo para entender o contexto desse fato, mas vale a pena destacar algumas
coisas que antecedem e sucedem ao fato.
Bem, do primeiro
versículo até o décimo, temos Jesus dando instruções e autoridade aos seus
apóstolos para uma missão de campo. Não esqueça, eles receberam poder.
De 11
a 17, Jesus vai fazer muitos milagres, inclusive, o da multiplicação, os
seus assessores diretos viram algo insólito, a multiplicação dos pães e peixes.
Foi uma manifestação de muito poder. Poder de novo, não esqueça.
Agora no 18 até o
27, o Mestre vai inquirir o grupo sobre a sua natureza, espantosamente (pra
mim), Pedro faz uma declaração teológica profunda, mas, rebatida pelos lideres
judaicos da época. Neste momento, Jesus fala de sua missão e da necessidade de
segui-lo e, nos meandros da conversa, fica claro que o poder não para a soberba
de quem recebe.
Nos versos 28
a 36, a transfiguração, com a presença de dois esteios da fé judaica,
Moisés e Elias. Aquele grupo seleto fica maravilhado, ou seja, viram um milagre
como poucos viram, em toda a história do homem na terra. Mas o acontecimento
foi recheado de milagre e cercado de humildade, não houve confronto entre o
poder e a humilhação.
Na sequência, temos
um fato entre os versos 37 ao 45, um pai vem clamar pela libertação de seu
filho, completamente aprisionado pelo maligno, boneco nas mãos do indecente. O
pai crera tanto em Jesus, que compreendeu que os seus discípulos poderiam
vencer aquela terrível força maligna. A força do mal era grandiosa, mas ele
creu que os seguidores de Jesus seriam capazes de operar o milagre. O pai se
frustra, o mestre mais ainda. Nesse texto, eles ficam sem compreender.
Entretanto, o poder porfiou com a soberba e o inimigo saiu quase vencedor. Mas
aconteceu o milagre, o maligno perdeu, pois Jesus estava lá com poder e
humildade para resolver a questão.
Agora o escritor
sagrado, sob a orientação do Espírito Santo vai registrar algo inimaginável.
Depois de tudo o que vimos, o grupo ainda quer saber quem é o maior. Isso
ocorre apenas nos versos 46 a 48. Os discípulos perguntaram porque
precisavam saber quem é o maior. A questão era não saber quem é o menos. Alguém
pode dizer como é possível se sentir grande ao lado de Jesus? Se nosso líder é
Jesus, o Reis dos Reis, o Senhor dos Senhores, o Grande Eu Sou, então como não
me sentir o maior ou querer ser o maior. Entretanto, Ele a cada passo foi
instruindo o grupo sobre a importância de compreender quem somos.
Separei o 49 e o 50
porque o texto é copioso de cegueira deste grupo. Preciso fazer uma ressalva
aqui: agradeço a Deus não ser um deles. Agradeço a Deus ter a oportunidade de
aprender com os erros deles.
Bem, esses dois
versos falam de alguém que havia recebido a mensagem plena de Jesus, e agora
saiu a colocá-la em prática. E vejam só, esse irmão anônimo estava
expulsando demônios, coisa que o grupo seleto de Jesus não conseguiu. Quem era
esse que tinha a capacidade de lidar com o poder e a humildade? É nosso
exemplo.
Aqui, o nosso
texto, “Vós não sabeis de que espírito sois”, que começa no 51 e segue até o
56. Este não comento.
E a parte inicial
do contexto posterior, vai do 57 ao 62, encerrando assim o capítulo 9.
O capítulo 10
começa de forma semelhante ao anterior. Ali, Jesus manda os doze pregar o
evangelho e curar. Aqui a coisa é ampliada, e a partir do primeiro verso até o
24, temos a missão dos setenta. Estes recebem orientações fortes, poder e
autoridade. Dessarte, eles vão em busca da concretização da missão. Voltam
felizes por vê poderes sobrenaturais sendo derrotados por seres finitos, porém,
seres revestidos de esplendor, revestidos do poder de Jesus. Eles ficaram fascinados.
Não, eles ficaram extasiados. Não era encanto, era “pasmação”. O negócio foi
muito forte. Entretanto, eles não haviam compreendido que a verdadeira alegria
era a salvação e não o poder para a realização dos feitos.
Na sequência, vamos
entrar na missão do mestre: a salvação dos perdidos. O tema salvação prossegue.
Salvar o homem caído, este é o maior milagre. Nestes versos de 25
a 37, Ele vai mostrar os salvos como servos. Não servimos os outros para
obter a salvação. Servimos porque somos salvos. O salvo serve. O salvo é servo.
Percebemos aqui que o poder é para aprendermos a lavar os pés dos outros, e
não, para sermos inflados de orgulho.
Agora a parte final
do nosso contexto. Estes últimos versos falam do homem que mostrou para o mundo
que as mulheres estavam sendo maltratadas, estavam sendo oprimidas, elas eram
secundárias. Em certas culturas, não serviam nem para o sexo (que barbaridade e
desperdício).
Nosso contexto não
podia finalizar de forma melhor, é coisa de Deus, é Ele que conduziu a pena do
escritor. Os versículos de 38 a 42 mostram Jesus, enfatizando a subida da
mulher na escala social. O simples fato de aí está, é a denotação da ênfase. O
simples fato do registro mostra que Jesus estava querendo pulverizar o orgulho
masculino, a superioridade masculina. Aqui temos uma mulher que percebeu a
grande oportunidade. Sentou para ouvir o Mestre como um discípulo. Coisa dada
apenas aos homens. Creio que isso foi o golpe de misericórdia. Orgulho não é
coisa de crente, ira não é coisa de crente, opressão não é coisa de crente.
Poder não para se impor sobre os outros. Poder de Deus para ser usado contra o
inimigo e a favor dos irmãos.
E isso tudo exposto
não consegue ser entendido pela maioria esmagadora dos cristãos, nem dos
tradicionais, que pecam pela soberba e nem pelos mais animados ou chamados de
pentecostais, que por sua vez caem no mesmo erro: a soberba.
E ainda a contínua briga de judeus com seus
vizinhos é sem dúvida um dos fatos mais comum na atividade humana. A coisa tem
suas razões, tem seus direitos, tem seu zelo, tem sua visão, que, como qualquer
outra, tem algum instrumento de aferição, mesmo que este instrumento não seja
compreendido corretamente, ele existe.
Jesus teve mais
compaixão com as prostitutas do que com os soberbos. Ele mesmo poderia lançar
mão de sua situação de grandeza, mas não o fez. Suportou um ladrão no seu grupo
até o último momento, mas ficou triste quando dois de seus apóstolos desejaram
lugares especiais na sua vinda.
Falou da
necessidade de amarmos verdadeiramente uns aos outros. O Espírito Santos disse que devemos fazer bem a
todos mas principalmente, aos domésticos da fé. Aquilo que quero que façam a
mim, eu mesmo devo fazer aos outros. No contexto geral dos ensinamentos de
Jesus, soberba, orgulho, raiva, o se acha superior, são comportamentos
desestimulados pelo Mestre Salvador.
Vós não sabeis de
que espírito sois, é um texto que não suporta a unanimidade da crítica,
entretanto, a repreensão é inegável. Jesus continua nos repreendendo,
repreendendo essa nossa necessidade de ser superior, de ser notado, de não
perder a discussão, de humilhar, de não poder ser repreendido. Jesus continua
falando e, nós, continuamos na posição do coração endurecidos.
Faz pouco tempo que
entreguei a vida pra Jesus, isso só tem vinte e seis anos, não consigo dizer a
alguém que ela tem que ser melhor, sem que eu mesmo não me olhe, sem que veja
cada atitude minha, sem que veja e reveja meus preconceitos, sem refletir e
muitas vezes dizer eu errei (apesar que pastor não erra, é o que muitos
pastores pensam e muitos irmãos seguem tal linha equivocada e diabólica).
Lembro de um pastor no seminário que dizia: “a pregação é algo tão
difícil, que deveria ser dada ao diabo como castigo pela sua rebeldia”. Ele
disse que essa era uma expressão de um reformador. Não concordo com eles. A
pregação é sem dúvida algo difícil, é sem duvida algo perigoso, é sem dúvida
algo devastador. Mas ela é sublime, ela é um privilégio dado aos homens (e
alguns poucos), ela devasta o pecado, ela é transformadora. Não posso esquecer
que estou por boca de Deus ao pregar. Já preguei a Palavra mais de 3.600 vezes.
Parece muito, isso representa 20 anos de ministério, mas os que já passaram de
40 anos, ou 50 anos de pregação, é uma turma que falou por Deus mais de 10.000
vezes.
Gosto do pensamento que diz que os pregadores vão chegar diante de
Pedro, de Paulo, de Jesus e de muitos outros personagens bíblicos e eles vão
dizer: Eu não disse aquilo que você pregou em tal ocasião.
Sou repreendido constantemente, pois, as vezes esqueço de que espírito
eu sou. As vezes que minha língua está a serviço de Deus e não da minha carne.
As vezes esqueço que minha esposa é a parte mais fraca da minha carne. Bater
nela não faz parte da minha história, humilhar também não, chantagem, ameaças,
negar a voz. De que espírito sou, e você, de que espírito você é?
De que espírito somos? Somos do Espírito Santo de Deus. Somos “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo
adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz;” é desse Espírito que somos. Não esqueça: somos
crentes a todos os instantes, mesmo diante de nossos inimigos, ou mesmo diante
daqueles não nos causam prazer. O poder que nos foi dado é para servir e não
para oprimir os irmãos. Somos dos que servem, servimos amor e não fogo
consumidor. Sirvamos.
Pr.
Gilvan Mourão.
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